Há tanto tempo que não me ocupo do jardim A última vez estava frondoso A buganvília a tingir-se de vermelho Trepando O perfume inebriante E as festas ao cair da tarde Parece que foram há séculos Noutra encarnação Os meus amigos traziam as bebidas E a jovialidade O jardim enchia-se de gente De beijos Pelos cantos Sôfregos de desejo Inventavamos planos de rebelião Sonhos de transmutação Passavamos horas a inventar Entre duas carícias Surgiam ideias puras e inocentes Como a nossa vontade de tudo abarcar Era um frenesim constante Faz-me pena agora Olhar para ele Para as suas sebes abandonadas De ramos retorcidos Jaz tombada a grande epícea E uma enorme cratera Substitui os belos canteiros de outrora Há tanto tempo que não me ocupo do jardim A última vez estava frondoso A buganvília a tingir-se de vermelho Trepando O perfume inebriante E as festas ao cair da tarde Parece que foram há séculos Noutra encarnação