O mundo não é mais um lugar seguro O mundo deixou de ser um lugar seguro Quando os oceanos invadiram a terra Com as suas ondas viscosas E empurraram toda a gente Para o alto das montanhas As montanhas, com os picos envoltos numa premanente névoa De gases tóxicos, não são lugar agradável As pessoas, para se protegerem Inventaram uns rígidos factos herméticos Que lhes impedem o toque, o beijo e o amor Assim, atomizados, espalhámo-nos por pequenos "bunkers" Escavados nas encostas onde aguardámos, na solidão dos fados Que algo aconteça... Que uma qualquer civilização Extraterrestre nos venha salvar da extinção Mas, até agora, nada aconteceu Nenhum sinal de uma presença cósmica foi detetado Pelo que continuamos Expectantes debruçados Sobre os monitores dos nossos aparelhos eletrónicos À cata do mais ínfimo movimento por entre o labirinto De planetas e estrelas e galáxias que formam a infinitude do universo Enquanto, pela parede envidraçada dos bunkers Vamos vigiando o ondular mucoso das águas Que, dia após dias, paulatinamente se aproximam Há um frio profundo, primordial, que me gela o corpo O vácuo húmido, que me deixa sensível à presença de matéria escura E às mais delicadas vibrações de energia, ao medo O mundo não é mais um lugar seguro