O rio lavou a carne de todos que pediram perdão Mas a minha não Minhas mãos estão sujas de todo sangue jorrado em vão E pra sempre estarão Minha lápide anuncia a água que entrou em meu pulmão Que correu por sua mão Para nunca encontrar a paz que me foi prometida E morrer sem ter saída Essa é a minha sina Eu fico preso em memórias involuntárias De um passado perdido que não volta mais E procuro pelos destroços algum rastro de quem eu sou Se ainda sou humano, Ou só mais um fantasma que se perdeu no caminho do inferno Pelo menos estaria morto No caminho pra casa, tudo paralisa O suor gelado em minhas mãos se petrifica E a ideia de mim não existe mais Sou levado pelas folhas e pelo vento Pra repousar, em silêncio Quando a realidade voltar Num instante, tudo volta ao normal O barulho dos carros me acorda de um devaneio paradoxal E o pânico me consome por inteiro E quem eu sou, novamente esqueço Sou só o caos Em que estou submerso Eu sou o caos que estremece o meu corpo Eu sou o caos que ensurdece meus ouvidos Eu sou o caos que estilhaça minha pele Eu sou o caos que me consome Se eu pudesse arrancar minha pele Com certeza já o teria feito E empalado meus órgãos internos Pra sangrar sobre o meu leito