Oração do dinheiro Senhor, no concerto das forças que te desejam honrar Eu também sou teu servo Por me atribuíres o dever de premiar o suor E sustentar o bem como recurso neutro de aquisição Ando entre as criaturas, frequentemente, em regime de cativeiro Muitas delas me escravizam Para que eu lhes compre ilusões e mentiras Prazeres e consciências Noto com mais nitidez minha própria tarefa Cada vez que escuto alguém chorar no caminho Entretanto, quase sempre, Senhor, estou preso Que fiz eu para viver encarcerado no sombrio recinto Do cofre, como seu eu fora um cadáver importante No esquife trancado da inércia? Ensina aos que me guardam sem proveito Que sou o sangue do trabalho e do progresso Da caridade e da cultura e ajuda-os para que me libertem Quase todos eles procuram estar contigo Através da oração, nos templos que abraçam Dize-lhes, na prece, que sou a esperança do lar sem lume Fala-lhes, que posso ser o conforto das mães esquecidas O arrimo dos companheiros caídos em provação O leite devido aos pequeninos de estômago atormentado O remédio ao enfermo e o lençol Generoso e limpo dos que avizinham do túmulo Um dia, alguém te apresentou moeda humilde Empenhada ao imposto público Para que algo dissesses E recomendaste fosse dado a César o que é de César Muitos, porém, não perceberam Que te reportavas ao tributo e não a mim E, julgando que a tua palavra me condenasse Lançaram-me ao desprezo Não ignoras, contudo, que nasci para fazer o melhor E esteja eu vestido de ouro ou de simples papel Sabes, Senhor, que eu também sou de Deus