Come umas cerejas que são boas Vamos ver o filme que hoje passa Hoje não há sombras da desgraça Hoje nem morreram nem pessoas Só no filme há sangue verdadeiro Já que a verdade é coisa enganosa Só na vida há sonhos cor-de-rosa Só na noite o amor é curandeiro Não há nem resposta p'rá pergunta Será que a paixão agora finda Será que de amor se move ainda E assim o desenho à cor se junta? Será que finda? Será que ainda? Temos enredo Pra tanto gosto Pra tanto medo Pra tanto susto A vida é um doido brinquedo La fora os obuses não descansam Vão em busca das realidades Negra é a madrugada das cidades Quando os vivos com os mortos dançam A guerra, é puxar só por um fio E enrola o novelo no soldado Passa do papel ao empedrado Junta a tinta e o sangue num só rio Busca a caixa negra dos amores Estão lá todas as frases em saldo O vermelho-cinza do rescaldo E o vermelho-fogo multi-cores Será que finda? Será que ainda? Temos enredo Pra tanto gosto Pra tanto medo Pra tanto susto A vida é um doido brinquedo Come umas cerejas. O que sentes? Morde com ciência e com afinco Conta pelos dedos de um a cinco Quantos são na terra os continentes? Pássaros de ferro cruzam ares Largam suas unhas nos países Pelas ruas riscam cicatrizes E nos jardins desenham só esgares Será que finda? Será que ainda? Temos enredo Pra tanto gosto Pra tanto medo Pra tanto susto A vida é um doido brinquedo Vimos todo o filme de rajada Sempre de olhos postos no desfecho Do happy-end, eu nem sequer me queixo Só que a vida é mais emaranhada