Chega-te a mim Mais perto da lareira Vou-te contar A história verdadeira ♪ A guerra deu na tv Foi na retrospectiva Corpo dormente em carne viva Revi pra mim o cheiro aceso Dos sítios tão remotos E do corpo ileso Vou-te mostrar, as fotos Olha o meu corpo ileso Olha esta foto, eu aqui Era novo e inocente Às suas ordens meu tenente E assim me vi no breu do mato Altivo e folgazão Ou para ser mais exato Saudoso de outro chão Não se vê no retrato Chega-te a mim Mais perto da lareira Vou-te contar A história verdadeira Nesta outra foto, é manhã Olha o nosso sorriso Noite acabou sem ser preciso Sair dos sonhos de outras camas Para empunhar o cospe-fogo e o lança-chamas Estás são e salvo e logo Viver é bom, proclamas Eu nesta, não fiquei bem Estou a olhar para o lado Tinham-me dito eh soldado É dia de incendiar aldeias Baralha e volta a dar O que tiveres de ideias E tudo o que arder e queimar No fogo assim te estreias Chega-te a mim Mais perto da lareira Vou-te contar A história verdadeira Nesta outra foto não vou Dar descanso aos teus olhos Não se distinguem os detalhes Mas nota o meu olhar, cintila Atrás da cor do sangue Eu vou seguindo em fila E atrás da cor do sangue Soldado não vacila O meu batismo de fogo Não se vê nestas fotos Tudo tremeu e os terremotos Costumam desfocar as formas Matamos, chacinamos Violamos, oh, mas Será que não violamos As ordens e as normas Chega-te a mim Mais perto da lareira Vou-te contar A história verdadeira Álbum das fotos fechado Volto a ser quem não era Como a memória a primavera Rebenta em flores impensadas Num livro as amassamos Logo após cortadas Já foi há muitos anos E ainda as mãos geladas ♪ Chega-te a mim Mais perto da lareira Vou-te contar A história verdadeira Quando a recordo Sei que quase logo acordo A morte dorme parada Nesta morada