Eu bem lhes explicava esta sensação de me abandonar De embarcar no outro De tédio e bocejo Acompanhado pelo sentimento doloroso de perceber o outro Fazendo tudo aquilo de que eu me inibia... ♪ Começa de uma forma complicada Injeção de uma rotina tendo o fim na madrugada E já no fim de uma drogada noite há outra dose cheia de nada Porque o meu salário líquido mal enche um copo de água Sem dinhero não há vícios, tenho vício de não tê-lo E sou digno de não vê-lo para poder não ter sossego Pensava que era uma questão de oportunidades Finalmente eu ganhei uma que foi só para estar calado Condenado ao azar, encostado a um lugar qualquer Fui ao mar para perder o lugar, mas ninguém quer E quando eu volto ponho em causa voltar para casa Ela dorme mas a aliança é um monte de despesas que nos casa Quando era novo abria a porta para entrar luz Hoje fecho porque quem nela bate conta água e luz E vizinhos lembram-me o custo de ser igual E o susto de ser igual faz-me encarar isso como normal Saber lidar com a cadeia da tradição Chegar à meia noite, dormir a meias num só colchão E eu amo, mas a noite questiona a minha existência Depois de um trabalho duro o destino são más tendências Só me satisfazia sendo dois Não aguentava tamanha pressão apenas na forma de um indivíduo Tinha de ser dois em corpo, senão rebentava o que em mim era desejo No carro, paisagens e eu afastados por janelas Muitas horas passam e eu quero passar com elas Faço um desvio para o centro citadino por ruelas E ao passar por elas sinto-me inseguro nas promessas Velhos tempos, amigos, vida em dois dias antigos Em que um desses dias eram dois dias seguidos Pensar em voltar e poder voltar ao que se pensa É muito mais forte do que não querer que isso aconteça Todos bebem, todos servem, todos em comunhão À noite qualquer pessoa é um veículo de ocasião Essa agitação distrai-me, cai-me o carácter sóbrio O prazer noturno de poder trocar o nome próprio Vejo-me a passar para o outro lado A caminho do inconsciente sigo em passos largos E largos os momentos que me deixavam perturbado E espelhavam-me o silêncio de um homem sufocado Focado no caminho da frente para um caminho diferente Rebocado por tentações e uma força crescente Impõem-se a descontração em direção ao bar Que impõem má provocação, aguardo uma função Cumprimento conhecidos movimento os sentidos Amolecido por um desejo de não serem contidos Bate um alerta, como quem chama por mim Vento não é certamente e o álcool não bate assim Uma mulher da primavera fura a minha atmosfera Num ato que nos fere a certeza de um amor que era O qual impera um território há muito conquistado Mas muito pouco estimado de eu andar sempre ocupado A espera da minha mulher na face tão dramática A paciência do seu corpo tão cinematográfica Os lençóis com mil formas de inquietude Mil manobras para que tudo nos deixe ficarmos juntos Cenas em flash, cenas de uma praxe quando é nova a reação Quando o macho aprova uma motivação feminina E curte examinando o seu todo É ambição ou cansaço de não ser ambicioso Quantas voltas dás? Quantas voltas não voltam Quantas voltas tem um caminho de volta? Quantas voltas deste? Quantas voltas fizeste? Quantas voltas dá um caminho de volta? Quantas voltas dás? Quantas voltas não voltam Quantas voltas tem um caminho de volta? Quantas voltas deste? Quantas voltas fizeste? Quantas voltas dá um caminho de volta? Nunca fui tão espontâneo sentir que tudo é benéfico Preocupação, arranjei tempo para um analgésico Ao entrelaçar as mãos, qualquer local é propício A evolução da líbido faz-me mais primitivo Em casa dela as coisas são maiores Até os espaços onde ela pousa os livros são maiores Essa mulher de luz que fechou os estores E apagou a minha dor na minha pele libertando os poros Em prol do que ela sabe no colo de uma vontade Eu mole assim me colo à sua clara superioriadade Decidido a olhar para a frente e por as mãos na culpa E no outro lado olhar para o chão e por as mãos na nuca Nenhum dos dois pensa, são reféns da sensação Com fé de ganhar algo mais e ver nisso a compensação Era a réplica da antiga paixão Que apodreceu como um cigarro fumado por um pulmão Agora tou mais tenso Há imenso que não me sentia frenético Entre os dois a temperatura como um campo magnético Caminho poético, eu nunca tinha vindo neste Cada caminho regressa, mas qual o regresso deste? Quantas voltas dás? Quantas voltas não voltam Quantas voltas tem um caminho de volta? Quantas voltas deste? Quantas voltas fizeste? Quantas voltas dá um caminho de volta? Quantas voltas dás? Quantas voltas não voltam Quantas voltas tem um caminho de volta? Quantas voltas deste? Quantas voltas fizeste? Quantas voltas dá um caminho de volta? ♪ Algo que nos acorda como espécie de dúvida A verdade podia ter sido um sonho Agora cabem milhões de perguntas Numa pequena casa que se tornou gigante em mim Primeiro eu antes dos outros Mas fui outro antes de mim Fui um outro que era eu Numa volta que nunca volta Eu quero voltar para casa Quantas voltas tem um caminho de volta?