A seca que abate a gente Tira a comida da mesa O nordestino humilhado Não esconde sua tristeza Finca a enxada no chão E naquele poeirão Sobe um mundo de incerteza O sertanejo resiste Forte como um pau-pereira Clamoroso é ao que se assiste Nesta nação brasileira Onde uns tem tudo farto Mulheres morrem de parto Nos braços de uma parteira. Na seca a politicagem Dos coronéis faz parada Homens aqui são tratados Como se fossem boiada Triste sertão de "caboco" Onde um voto vale pouco Onde a vida vale nada Passa a seca vem a chuva E nada de melhorar Porque o governo nega Semente pra semear E o latifundiário Para aumentar o calvário Nega terra pra plantar Desrespeita-se a velhice Abandona-se a infância As escolas desmoronam Por impúria ou traficância Do saber poucos se apossam E as criancinhas engrossam O Exército da ignorância Terra que produz de tudo - Do feijão ao babaçu - Teu povo é escravizado No açoite do couro cru Come restos de ração Bebe a lama do porão Não tem roupa - anda nu Semblantes desfigurados Corpos esqueléticos nus Enquanto nutrem a esperança Num milagre de Jesus Disputam pelas estradas Brutos já mortos, ossadas Com bandos de urubus Asfora falou um dia Dos seios sem leite, murchos Das veias brancas, sem sangue Que nem algodão - capuchos - Enquanto reina a alarvia Da elite que um dia Terá de perder os luxos