Aquele velho ranchinho Ali na beira da estrada Morreu o tropeiro velho Da vida longa e cansada Ele morreu nos meus braços Sua alma subiu pesada Achou que oitenta anos Não tinha vivido nada No povo anda uma lenda Que do rancho pra fazenda O velho ronda a boiada Ai, ai, ai Que do rancho pra fazenda O velho ronda a boiada Todos que ali tem passado Me contam a história assim Que em horas mortas da noite O velho chama por mim Bem trajado pala branco Sai do rancho de capim Se entranha fazenda a dentro Percorre toda até o fim Grita com a boiada e chora Ainda se ouve a espora Na grama fazer tirrim Ai, ai, ai Ainda se ouve a espora Na grama fazer tirrim Dizem que em noite de chuva Ou Lua clara demais O velho não aparece Só se ouve gritos e ais Os tropeiros que ali passam Às vezes voltam pra trás Sente remorço em ouvir O escarcel que o velho faz Grita pelo seu cavalo Do relho se ouve o estalo Me chama vem cá rapaz Ai, ai, ai Do relho se ouve o estalo Me chama vem cá rapaz Há um mês atrás eu fui lá Quando a noite escureceu Pra ver se era verdade Se volta quem já morreu Não vi mas ouvi a voz Dizer assim filho meu Acendeste muitas velas Mas do terço tu esqueceu Rezei o terço em sua graça Todo o povo hoje ali passa Nunca mais apareceu Ai, ai, ai Todo o povo hoje ali passa Nunca mais apareceu