Da minha cordeona que aos poucos se fecha Ganhei esta mecha de branco nas crinas E antes que a gaita se vá pro estojo Eu subo o apojo de um som que termina Comparo o meu corpo com a gaita cansada Por léguas e estradas, noitadas sem fim Pois trago nas veias gaitaços malevos E gaita carrega pedaços de mim Sou resto de baile com Sol na janela Sou tecla amarela encardida no tempo Gaiteiro gaúcho, mourão de invernada E casca lenhada, mas firme por dentro ♪ Na beira do fogo forgeia amizades Sem ter vaidades, cachola e contente Pra mim dá no mesmo tocar sem ter lucro Ou num baile xucro tapado de gente Mais coisas tão minhas ganhei nos forenhos Farranchos, rodeios, cirandas da vida Levando alegria tirei meu sustento Bendito instrumento, parceiro de lida Sou resto de baile com Sol na janela Sou tecla amarela encardida no tempo Gaiteiro gaúcho, mourão de invernada E casca lenhada, mas firme por dentro ♪ Levei no meu canto de pura linhagem Ternuras, mensagens de guerra e de amor Abrindo esse fole mesmo na mesmice E como se abriste no campo uma flor Eu sei que a saudade jamais envelhece Por isso nas preces eu peço uma luz Pra que eu não esqueça dos tempos tão lindos Cordeona se abrindo e os braços em cruz Sou resto de baile com Sol na janela Sou tecla amarela encardida no tempo Gaiteiro gaúcho, mourão de invernada E casca lenhada, mas firme por dentro