Como eu me defendo? Desse sentimento de inadequação Que me destrói por dentro Pro qual não vejo explicação Bandeira a meio mastro Um afago áspero, a voz do cantor Eu criei um certo faro Pra esse tipo de enganador Graças a você Ladeira abaixo, assim foi dito Uma obra-prima de eufemismo Pras dores da inaptidão Pro sufocante calor da afobação Ninguém imagina o que eu enfrentei O quanto doeu, o quanto eu rezei Minha reza de ateu, num desespero Que eu nunca me atrevo a demonstrar ♪ Bêbada e vingativa O amor como eu o conhecia De peito estufado, cheia de si Cantando em copos por aí Na madrugada eterna e ardente Que te deixou toda em carne-viva ♪ Uma adoração inconcebível (Em mim você devia confiar) Todo o amor que me é possível (Eu vejo tanto de mim mesma em você) Recolhido, quieto, ensimesmado Meu refém conformado e imperturbável Na madrugada eterna e ardente Que me deixou todo em carne-viva ♪ Agora, convenhamos Eu nunca me expus tanto, você nem pra impedir Com todo esse alvoroço Eu só engoli meu almoço, não senti gosto algum A torneira que eu esqueci aberta Não tardou a inundar todo o prédio Mas eu sobrevivi, eu sobrevivi ♪ O tempo que a gente passou aqui Morando de favor, nos tornou Parte da mobília sem valor, na percepção Pobre e turva daquele que nos abrigou E foi nesse corredor Que eu vi o fantasma de um senhor E de um labrador magro, manco e ameaçador Eu é que não vou me meter com esses dois Eu é que não vou, ah Eu é que não vou Então, nem queira saber o que eu ambiciono O que me mantém vivo Porque eu não cedo ao sono Eu te aconselho: Nem queira saber Assim que os meus dias de vândalo terminarem Eu sei que me levarão pro céu E farão com que eu narre Os meus escândalos sem que eu me gabe Com o constrangimento abatido de um réu Talvez fosse preferível Que eu nunca tivesse saído De onde eu nasci, de Araguari