Cancelaram o nosso futuro Como se o escuro Iluminasse até deixar tudo confuso Nos impedindo de atravessar o muro Viver a nova era, a paz na Terra, o fim da espera A primavera, a festa, etcetera Senhores da guerra Mais quanto tempo até rifar a biosfera Criar a bala que atinja uma ideia Vender o sol, a lua e as estrelas Os olhos, a pele e os ossos do planeta? E assim, quando escorrer o último grão fino de areia Dentro do claro vidro da ampulheta E não restar mais gente, mar ou borboleta Quem vai dar forma e alma a esta esfera? Quem vai sonhar o sonho? ♪ Cancelaram o nosso futuro Que absurdo tudo Vigiado pelo computador eu me pergunto Se a solidão vai engolir toda a cidade Na sedução por uma vida de vaidades A pós-verdade, a ilusão de liberdade, o fim da sociedade Eu me pergunto sobre a velocidade Da produção intensa de novidade Que acumulamos meio sem saber se cabe Até que acabe ou que desabe a gravidade O mundo vai se despedir de nós? Quantos de nós, e somos nós muitos Que não cabemos dentro desta humanidade? Quem vai sonhar o sonho? Então, eu penso: melhor sonhar o impossível Estar aberto para o incrível, no mínimo o intangível É preciso ter paciência, meu amigo, minha amiga Pra emancipar a consciência persiga Experimentar, sair diferente no presente Mergulhar no abismo e sair vivo e potente Por isso, eu digo e repito: Melhor sonhar o impossível Saber que sempre enfrentaremos a dor terrível De lidar com fim, a ideia do fim da vida Mas há de haver a saída Se a nossa guia for permitir curar toda a ferida Existirmos, a que será que se destina Senão pra realizar aquilo que se imagina?