Não há guarda-chuva contra o poema Não há guarda-chuva contra o amor Não há guarda-chuva contra o tédio Não há guarda-chuva contra o mundo Não há guarda-chuva contra o tempo Não há guarda-chuva contra a noite Não há guarda-chuva contra a ameaça Se vem vindo forte a tempestade Perco o medo, enfrento a fera Eu sei quem era com essa minha tirana vontade Regiões onde tudo é surpresa Como uma flor mesmo num canteiro Que mastiga, que cospe como qualquer boca Que tritura como um desastre O tédio das quatro parede O tédio das quatro estações Cada dia devorado nos jornais No tédio dos quatro pontos cardeais ♪ Não há guarda-chuva contra as filas Feito serpente pelas calçadas Não há guarda-chuva para as crianças Pivetes, menores abandonadas Não há guarda-chuva contra o veneno O despeito de um ser humano Não é à toa pros inimigo, sou urtiga Sorrindo é que se castiga Sou paraibana de tutano Não há guarda-chuva contra a simpatia Se ela nos pega desprevenido Deixa a gente abobalhada, dizendo coisas sem sentido Não há guarda-chuva contra a covardia De erguer a cabeça ao menos por um dia Se você tem alma de borracha, munheca um pouco flácida Não ouça o que eu digo