Quando eu te vi fechando a porta E encenando o mesmo ato Eu tinha a mesma vergonha Usava o mesmo sapato éramos os dois os mesmos Na tal cama pequenina Tu flor rara, toxina Eu morto anunciado E o tempo parado ali Dentro das tuas janelas Quando eu quis até fingir Que já não eras tão bela Mas logo olhavas pra mim Com teu olhar obscuro Em que eu vi tanto futuro Inventei tanta novela Quando eu procurei desesperado Algo meu do teu agrado Palavras-chave complexas Pra abrir teu peito trancado Deixar entrar pelas frestas De uma persiana escura Um facho da tal doçura Que tu tinhas no passado E o tempo parado a rir E já tu eras a janela Da qual olhavas pra mim E ainda assim eras bela Mas logo punhas um fim Ao teu olhar obscuro Em que eu vi tanto futuro Inventei tanta novela Quando ao fim da tarde Eu vi o tédio empoçando a tua retina Eu não era mais poeta Tu não eras mais menina Não havia mais remédio Te dei adeus apressado Disseste toma cuidado E a porta já estava aberta