Eu sou aquele que os passados anos Cantando a minha lira maldizente Torpezas do Brasil, vícios, enganos E bem que os descantei bastantemente Canto segunda vez na mesma lira O mesmo assunto em pletro diferente De que pode servir, calar quem cala? Nunca se há de falar o que se sente Sempre se há de sentir o que se fala A ignorância dos homens dessas eras Sisudos faz ser uns, outros prudentes Que a mudez canoniza bestas feras Há bons por não poder ser insolentes Outros a comedidos de medrosos Não mordem outros, não por não ter dentes Quantos aqui os telhados têm vidrosos E deixam atirar sua pedrada De sua mesma telha receosos Uma só natureza nos foi dada Não criou Deus os naturais diversos Não só Adão criou, e esse de nada Todos somos ruins, todos perversos Só nos distingue o vício e a virtude De que uns são comensais, outros adversos Tem maior a tiver, do que eu ter pude Esse só me censure, esse me note Cantes mais e haja saúde E haja saúde Saúde