Vestido negro cingido Cabelo negro comprido E negro xaile bordado ♪ Subindo à noite a avenida Quem passa julga-a perdida Mulher de vício e pecado ♪ E vai sendo confundida Insultada e perseguida Pelo convite costumado ♪ Entra no café cantante Seguida em tom provocante P'los que querem comprá-la ♪ Uma guitarra a trinar Uma sombra devagar Avança p'ra o meio da sala ♪ Ela começa a cantar E os que a queriam comprar Sentam-se à mesa a olhá-la ♪ Canto antigo e tão profundo Que vindo do fim-do-mundo É pressa perante o pregão ♪ E todos os que a ouviam À luz das velas pareciam Devotos em oração ♪ E os que há pouco a ofendiam De olhos fechados ouviam Como pedindo-lhe perdão ♪ Vestido negro cingido Cabelo negro comprido E negro xaile traçado ♪ Cantando p'ra aquela mesa Ela dá-lhes a certeza De já lhes ter perdoado ♪ E em frente dela na mesa Como impressa uma deusa Em silêncio ouve-se o fado