Há dias em que acordo angustiada E nessa angustia sufocada O mundo todo à minha frente De repente é nada Há dias em que me deito inquieta E nessa inquietação desperta Há um vazio mas tão vazio Em que a garganta se aperta Há dias em que o meu corpo todo é espanto Haja sol, remédio santo Nunca falte o pão à mesa Boa casa portugueza Há horas em que o corpo todo é raiva Os meus gestos são de raiva As palavras são tão feias, são Quanta raiva, quanta raiva Mais vale ser mais Sinto muito se chegar ao fim Nada mais restando já de mim Que um coração cheio de pó Tão parado, tão cansado, tão só Há dias em que acordo preparada Num salto sai a torrada Ao relógio salto eu Já de perna apressada Outros dias em que a fábrica parada Me dá férias camarada Eu eu lá sigo sem saber O que fazer com tanta estrada Nesses dias olho o corpo baralhada E ao espelho desconcertada Há um motor no meu lugar De uma máquina estragada Há horas em que o corpo todo é raiva Os meus gestos são de raiva As palavras são tão feias, são Quanta raiva, quanta raiva Mais vale ser mais Sinto muito se chegar ao fim Nada mais restando já de mim Que um coração cheio de pó Tão parado, tão cansado, tão só Sinto muito se chegar ao fim Nada mais restando já de mim Que um coração cheio de pó Tão parado, tão cansado, tão só Sinto muito se chegar ao fim Nada mais restando já de mim Que um coração cheio de pó Tão parado, tão cansado, tão só