Cristo Quando me vires levar Pela rua da amargura, Que olhes a minha figura, E o sangue que eu derramar Tome a tua alma por cura. E, quando os saiões da cidade Me pregarem no madeiro Com fortes pregos de aceiro, Que olhes com que vontade Me entreguei ao carniceiro. E não quero de ti mais Lá reparte teus cruzados Teus impérios e reinados E tuas pompas mortais Que eu não quero teus morgados E, quando vires expirar O meu espírito cansado, O meu coração finado, Que tu te queiras lembrar Que eu morro por teu pecado. Quando enterrado me vires Sem companhia nem amparo, Que do teu coração tires suspiros, com que suspires Minha morte e desamparo . Seja papa quem quiser, Seja rei quem tu quiseres, Que os impérios e poderes A morte os há-de prover