E no princípio era o verbo E do verbo tudo se cria Segundo a profecia Quem nasceu primeiro foi a poesia Ainda fora de compasso O ritmo, veio depois Ordenando a dança entre tempo e espaço Não se sabe em que exato momento Ritmo e poesia se entrelaçaram no tempo Mas se sabe que a vida é fruto desse casamento O ritmo é movimento, a poesia é sentimento Ritmo é forma, poesia é conteúdo E isso os diferencia Pois poesia sem forma não tem ritmo E ritmo sem conteúdo não é poesia Um é matemática, o outro é gramática Ora acelera, ora pede calma O ritmo conduz o corpo, a poesia traduz a alma É empírico e é espírito Os dois adentram pelos ouvidos E me deixam dividido O ritmo me embriaga os sentidos A poesia me traz sentido É o ruído que faz o corpo vibrar E o silêncio necessário para que ele possa respirar Como os fluxos marítimos Que são guiados por ritmos As ondas declamam poemas para vento As rochas são pontos e vírgulas Que acentuam e repousam o andamento O vento assobia a melodia E quando a poesia encontra o movimento da batida É aí que nasce a vida Como o coração que bate lá no íntimo Mesclando sentimento e ritmo Ditando nossa cadência Compondo assim a inigualável música da existência Por isso que cada momento É um encontro inédito que a gente presencia Entre o ritmo da vida à procura da poesia