O automóvel corre A lembrança morre O suor escorre e molha a calçada A verdade na rua A verdade no povo A mulher toda nua Mais, nada de novo A revolta latente Que ninguém vê E nem sabe se sente Pois é, Pra que? O imposto, a conta O bazar barato O relógio aponta O momento exato Da morte incerta A gravata enforca O sapato aperta O país exporta E na minha porta Ninguém quer ver Uma sombra morta Pois é, Pra quê? Que rapaz é esse Que estranho canto Seu rosto é santo Seu canto é tudo Saiu do nada Da dor fingida Desceu a estrada Subiu na vida A menina aflita Ele não quer ver A guitarra excita Pois é, Pra quê? A fome, a doença O esporte, a gincana A praia compensa O trabalho a semana O chopp, o cinema O amor que atenua O tiro no peito O sangue na rua A fome, a doença Não sei mais porque Que noite Que lua Meu bem, Pra quê? O patrão sustenta O café, o almoço O jornal comenta O rapaz tão moço O calor aumenta A família cresce O cientista inventa Uma flor que parece A razão mais segura Pra ninguém saber De outra flor que tortura No fim do mundo Tem um tesouro Quem for primeiro Carrega o ouro A vida passa No meu cigarro Quem tem mais pressa Que arranje um carro Pr'andar ligeiro Sem ter porque Sem ter pra onde Pois é, Pra quê? Pois é, Pra quê? Pois é