Por meio tantã da ideia Ao tranco do pingo bueno Pito um crioulo no escuro Linda noite, penso, penso O orvalho do céu imenso Aroma do campo maduro Vem de guri esta mania De que sofri repreensão De andar soltando na voz As cousas do coração Quando voam pirilampos De andar falando sozinho De andar cantando baixinho Na solidão destes campos Meu pingo, trocando orelha Atento a qualquer perigo Vai tranqueando sem receio E, às vezes, nem masca o freio Só pra escutar o que eu digo Quando canto uma milonga eu cresço uns metros de altura Nem o minuano segura alma e cordas que ressonga Minha mirada se alonga quando largo cada verso O amargo e o triste disperso num lírico manotaço Cada sentença é um balaço nas coisas do universo ♪ Com a milonga nasci, lá nos pagos missioneiros Pajador e guitarreiro do meu rincão guarani Amar a terra aprendi com minha guitarra na mão Conheci muita lição que nos nega a sociedade Mostrengos de faculdade tentam nos dar, mas não dão ♪ Milonga que vem da pampa, de nobre estirpe gaudéria Ora triste, ora séria que na América destampa Nos palacetes se acampa, nasce e vive dos galpões Redemoneando ilusões na alma dos cruzadores Onde os poetas e cantores extravasam emoções ♪ Essa prenda nacional, quando te evoca o surenho E nas mãos de algum nortenho que vem da banda oriental No Brasil meridional és a lírica bandeira Quando em rondas galponeiras um pajador missioneiro Num sapucai de guerreiro te evoca de mil maneiras ♪ E muitos tentam fazer chorando o que eu faço rindo Se cantar tudo bem lindo, se tocar, vejam pra crer Quem duvidar venha ver um missioneiro trovando Sem querer estou louvando a terra onde eu nasci O meu rincão guarani que eu hei de morrer cantando