Entre os cavalos que eu tive Ouve um zaino requeimado Era bom como um pecado De pata e rédea, um relampo Bonito para um passeio Garboso e atirando o freio Em toda a lida de campo Foi de fama, este pingaço Arrocinado por mim Orelhas grandes assim Como pombas haraganas Por seu galope hay tiranas Que ainda se alembram de mim Os grandes tiros de laço Os de parar a Gauchada E os pealos de escornada Mais do que a vista e que ao braço E os devia ao grande pingo E quantas vezes, ringindo Cincha, bastos, e caronas Me levava às querendonas Pelas tardes de domingo Sentava-lhe um cogotilho Fogoso para um floreio Mansito para um idílio Por noites de tempo feio Certo no rumo ou no trilho E até recordo um enterro Em que um taura ia pra toca Ao tranquito, acompanhando Meu zaino ia se ladeando Pra um selim de chinoca Foi um amigo que eu tive Este zaino requeimado Só de lembrá-lo revive Uma saudade importuna Nele, firme no lombilho Eu me sentia um caudilho Nas vanguardas da coluna Nos bailes, de madrugada Ou mesmo n'algum bochincho Preso ao palanque, alarmado Chamava o dono enredado Pelos clarins do relincho Como a dizer, está na hora Patrão, de voltar a estância Já chega de extravagância Amigo, vamos simbora Logo as chilenas cantavam O lenço e o pala ruflavam E toaditas retrechavam No galope estrada fora Por tardes, cabeça erguida Olhava ao longe desperto Talvez sonhando a aventura Da correria e a loucura De algum sultão do deserto Dos seus ancestrais, na Ibéria De certo algum foi montado Por alguém que não entangue O tempo a memória de ouro Batalhas de luso e mouro Que ainda carrega no sangue Às vezes corria à toa Solto, em violento furor Em tão tremendo atropelo Tal se levasse de em pelo Um guarany boleador Lavado em suor, venta aberta Uns olhos de javali Estampa de alarma e alerta Cogoti de buriti Com as orelhas mais inquietas Que gavião quiri-quiri Como se um canhão tronasse E o velho Osório o montasse Nos campos de Tuiuti