Mate, galpão, madrugada, a estrela guia nascendo E um fogo manso aquecendo um guitarreiro ancestral Esse é o crioulo ritual que um novo dia repete Pingos dobrando o topete na testeira do buçal Esporas acordam cedo, os laços voltam aos tentos Incomparáveis momentos neste rincão de mi flor O gado no parador dispersa ao tranco por lote E um potro verga o cogote pateando no maneador Na costa, a sombra espichada do santa fé acordando Pelos de lontra brilhando na barranca da lagoa E assim a vida encordoa sobre o lombo da manhã Enquanto um grito tajã pelo varzedo ressoa Picadas de contrabando adoçadas de pitanga Os matos costeando sangas, rastro de sorro na areia Junto às ressacas das cheias, ossamentas encalhadas De alguma rês atolada numa cruzada mais feia Estes campos me conhecem de outros tempos vividos Quando vibrava o sonido do brito índio chamando E as boleadeiras tombeando os fletes dos invasores Entre amargos estertores da minha raça peleando Cada estância fronteiriça é um fortim de liberdade De pátria e dignidade que o mundo reconheceu Quando o Rio Grande nasceu eu já andava a cavalo Suando contra um vassalo que quis tomar o que é meu Por isso as vozes que ouço de tempos imemoriais São mensagens fraternais pra quem renasceu agora Por isso minh'alma aflora em cada coisa que penso E deixa um rastro de incenso pra se perde campo afora Mas permaneço gaúcho porque a essência perdura Templa rude, alma pura que a história conhece a fundo Mesmo pequeno e inundo de imperfeições deste plano Eu me sinto o ser humano mais genuíno do mundo Mais genuíno do mundo