Francis Lopes, Francis Lopes Nesse poema se nota Que à força da prepotência Os sintomas do rancor E os rumos da violência Se tornam desordenados Na hora que são tomados De encontro à inocência Um garotinho brincava Na frente da moradia Enquanto seu pai voltava Dos averes que fazia Encostava com carinho Um automóvel zerinho Que comprou naquele dia Porém, como a inocência De uma criança não sai Essa criança caiu No que qualquer outra cai Frágil de raciocínio Com pedaço de alumínio Riscou o carro do pai E continuou riscando Sujando o carro de barro Quando seu pai viu aquilo Gritou, brigou deu esparro E com gesto de vingança Pegou a mão da criança E bateu com força no carro Feriu a mão da criança Numa pancada brutal E daquele ferimento Deu um tétano, grande mal Foi o menino coitado Pelo mesmo pai levado As pressas pra o hospital Chegaram no hospital Não existiu outro jeito Amputaram do garoto O seu bracinho direito O pai sem pedir desculpa Sentia o peso da culpa Fervendo dentro do peito Voltaram do hospital Lamentando a cada passo A mãe sentindo tristeza E o filho faltando o braço O pai na sobra da calma Queimava o manto da alma Na fogueira do fracasso Em casa perdeu o rumo De tudo quanto fazia Não olhava mais pra o carro Nem comia e nem bebia Debruçado numa mesa Ouvindo a voz da tristeza Gemendo na moradia Um dia estava chorando Sem ter sossego e nem paz Veio seu filho enxugar Seus prantos sentimentais E disse assim: papaizinho Quando crescer meu bracinho Seu carro eu não risco mais Quando ele ouviu essa frase Não pode mais suportar Preparou o suicídio e disse: eu vou me acabar Minha viagem está pronta Irei pagar minha conta Do tanto que Deus cobrar Minha viagem está pronta Irei pagar minha conta Do tanto que Deus cobrar