Olha seu moço meu berrante pendurado Todo sujo, empoeirado na parede do porão Há muito tempo eu ali dependurei Nele nunca mais toquei pra não chorar de paixão Também meu peito já não tem força bastante Pra repicar o berrante e amenizar minha dor De uma saudade das estradas e poeira E uma vida boiadeira que pra mim já se acabou Por que saudade machuca tanto? Nem do meu pranto você não tem dó E como dói, é torturante Ver meu berrante todo coberto de pó ♪ Olha seu moço como dói meu coração Ver a minha profissão que não tem mais serventia Porque agora se transporta uma boiada Numa gaiola fechada em modernas rodovias Não tem poeira, não tem grito de peão Não se ouve no sertão um berrante em surdina Por isso sinto no meu peito a grande dor O progresso me forçou a mudar a minha sina Por que saudade machuca tanto? Nem do meu pranto você não tem dó E como dói, é torturante Ver meu berrante todo coberto de pó ♪ Olha seu moço meu berrante no abandono Parece que não tem dono, o seu toque emudeceu Quando lhe vejo os meus olhos enchem d'água Remoendo minhas mágoas me pergunto quem sou eu Eu sou aquele, um antigo boiadeiro Um velho peão estradeiro sem cavalo e sem boiada Que ainda guarda um berrante pendurado Como troféu polvilhado de poeira das estradas Por que saudade machuca tanto? Nem do meu pranto você não tem dó E como dói, é torturante Ver meu berrante todo coberto de pó