No meio da claridade Daquele tão triste dia Grande, grande era a cidade E ninguém me conhecia Rostos, carros, movimentos Traziam noite e segredo Só eu me sentia lento E avançava quase a medo Só a saudade da pátria Longínqua, me acompanhava Quisera voltar à serra E ouvir o vento e a água brava Quisera voltar ao bosque Onde sei que sou lembrado Voltar às leiras de Afife E ouvir a canção tão mansa Do pastor que guarda o gado Mas nas ruas sinuosas Ainda o rumor crescera E eu contemplava assombrado Minhas mãos ontem com rosas Minhas mãos hoje de cera Então passaram por mim Uns olhos lindos depois Julguei sonhar vendo enfim Dois olhos como há só dois Em todos os meus sentidos Tive presságios de adeus E os olhos logo perdidos Afastaram-se dos meus Acordei e a claridade Fez-se maior e mais fria Grande, grande era a cidade E ninguém me conhecia