Eu vivo em meio às trevas que matam uma pessoa a cada nove minutos Onde mães marcham por justiça Segurando velas e cartolinas com fotos de filhos assassinados Onde sua cor e padrão econômico Definem a sua expectativa de vida e os direitos que você tem acesso No matadouro que dilacera a carne dos esquecidos Crianças abandonadas pela sociedade brincam de chefes do crime organizado Crianças abandonadas pela sociedade Sonham com pais e mães que foram aprisionados Sonham com pais e mães que foram mortos pela polícia São estupradas e barbarizadas pelo Estado e pelo playboy cuzão Que rouba a favela pra desfilar de SUV de luxo Ainda na infância os carrinhos e bonecas São trocados por revólveres com numeração raspada Ainda na infância a proteção do ECA vira cinzas Em uma das milhares de Cracolândias Articuladas pelos governos municipais, estaduais e federal Seguimos cometendo latrocínios, torturando em cativeiros Invadindo condomínios de alto padrão e furando blindagens Porque essa é a vontade dos insetos imundos Que ostentam sua burrice através de colares de diamantes Quando nos privam da educação Estão pedindo para torrar dentro de um porta-malas em chamas Quando reduzem a constituição federal a um livro de piadas Estão pedindo para serem reconhecidos pela arcada dentária ou pelo DNA Enquanto os deuses da carnificina Saboreiam as vitórias de seus cavalos em corridas no Jockey O martelo seletivo do judiciário Não dá chance pros que nunca tiveram chance De progredir socialmente, profissionalmente, intelectualmente Bilhões de reais são gastos em políticas de massacre O dinheiro que financiaria o Brasil em paz É investido no sistema prisional desumano Nas medidas socioeducativas inúteis E no aparelhamento de esquadrões da morte legalizados A meta não é formar cidadãos, apenas subalternos, detentos e defuntos Em pleno ano de 2015 somos mantidos em senzalas modernas Somos escravizados em subempregos humilhantes Em pleno ano de 2015 construímos os bairros Que seremos proibidos de entrar Os carros que nunca dirigiremos Os prédios que subiremos pelo elevador de serviço Enquanto a polícia não nos mata e forja uma troca de tiros na cena do crime Nos deixam ler apenas os livros que ampliam nossa submissão Dentro ou fora das prisões Não temos permissão para ler escritos libertários e revolucionários Os textos que normalmente temos contato Durante toda nossa sofrida existência são os parágrafos contidos em obituários Inquéritos policiais e processos judiciais Com nossos nomes ou de parentes e amigos As ruínas abaixo da linha da indigência me ensinaram Que pessoas comuns cometem crimes por necessidade ou indução Já a classe abastada rouba merenda, espalha vírus Vicia, alcooliza, esconde a cura de doenças por ganância e egoísmo Aprendi que nas grades insalubres do sistema penitenciário estão as vítimas E que nos endereços mais valorizados e vigiados do país Moram os tiranos na nação Não tenho medo de exteriorizar os meus sentimos Minhas convicções e principalmente meu ódio Eu quero que todo jato abastecido com sangue do mais humilde exploda Eu quero que toda mansão erguida sobre cadáveres de excluídos Seja assaltada e queimada E que todo opressor nutrido com suor e as lágrimas de um oprimido Seja dizimado por armas de grosso calibre Desenhadas por seus próprios projetistas E produzidas em suas próprias fábricas Ai inimigo cruel, tirano e filho da puta Aquele que escreveu as frases que te fizeram borrar nas calças Se chama Eduardo É um militante do gueto que para o seu desespero Vai ficar o front até que o último de nós seja salvo E para piorar para você Igual a mim têm vários outros homens bombas no seu encalço Com a mesma ideologia combativa, revolta e sede de justiça e vingança Te apresento meus parceiros do 1° Ato Foda-se suas .40, suas tropas de homicidas, seu Estado genocida Seu poder financeiro e sua mídia tendenciosa e manipulados Toda sua força destrutiva Não é capaz de intimidar aqueles que têm a mentes livres de sua alienação Eu Eduardo, Luís Fernando, DJ Cléber e Mano Gordinho Sabemos o porquê de cada desgraça que atinge os bolsões de miséria Sabemos o porquê de cada urna funerária Sendo velada nos cemitérios que mais enterram jovens no mundo E a onde está alicerçada a fortuna dos grupos dominantes Nem perde tempo mandando rato fardado jogar em cima de nós Apologia ao crime, formação de quadrilha ou atentado terrorista Porque as nossas metralhadoras verbais só vão parar de atirar Quando cada arrombado que ataca a periferia Tiver numa cela ou à sete palmos abaixo da terra, terra, terra...