Olha a Viola Mãe de vista vazia Quando joga ela embola Cola a mão na agonia Se distrai tateando a melodia. Abre a viola Não repara onde espia Se ela encara, apavora Se ela chora, alumia Como o demo rezando a ave-maria. Pode até sangrar Pode ensandecer Recusar o céu de esmola. Pode tropeçar Quando escurecer Nas entranhas da viola. Tange a viola Com espora e euforia Encarcera a senhora Que ela implora alforria Vara a noite chamando a luz do dia. Solta a viola Pé na lua sem guia Que o luar desarvora Só loucura irradia Como o sol ponteando a ventania. Pode alucinar Pode incandescer Desandar tua memória. Pode imaginar O que não se vê Nas entranhas da viola. Segue a viola Teu olhar silencia Mas enxerga onde mora Tanta melancolia Como um cego sonhando a estrela-guia.