O meu amor não é o cais Não é o barco É o arco da espuma Que, desfeito, eu sou É tudo e coisa nenhuma Entre a proa e a bruma, o amor É a lembrança que enfuna Velas na escuna que naufragou Não é no livro antigo o olor De rosa que eu recebi Não é a ode, a loa Em Fernando Pessoa Mas é a nostalgia Do que eu não li Não é o camafeu Exposto na vitrine, em loja de penhor Mas é o que doeu No peito feito um crime Ao homem que o trocou É o olhar de um instante Fixando o amante Em plena traição Que há em noivas degoladas no caramanchão É o vulto de mulher Há muito tempo morta Em frente à penteadeira É o vazio que a Ausência dela ocupa ao ver sua cadeira A chuva dessa tarde trouxe Tito Madi E apenas eu ouvia... Ah, o amor é estar no inferno ao som da Ave Maria!