Quando ela passa Ginga e meneia É de raça O meu coração fracassa Por saber que são batalha Os dias dela Em cada rua ou viela Más rimas deixam sequela E resiste como calha Passa audaz, Com porte de tanto faz E nem olha para trás Se são fachos ou são fãs Lembro-me quando Nos conhecemos e disse O meu nome é Alice E sou uma mulher trans Voz de leoa Conhece meia Lisboa Às vezes, fala à toa Escolheu não se esconder Ela acordou Já vestida, agarrou No batom e no Foucault Foi pra rua ter prazer Boa de prosa Fez-se pantera vaidosa E coloriu-se de rosa Deu ao cravo nova cor Língua sem tento Que já foi deitar fermento Lá para os lados de São Bento Que se cumpra o seu furor Sim, é aquela tensão permanente Entre a forma como nos apresentamos aos outros E a forma como os outros nos percebem, Independentemente dos nossos esforços de nos apresentarmos De X maneira ou não E as tensões que existem sobre isso. Porque, às vezes, Apresentarmo-nos de uma forma que não Passa acriticamente à visão dos outros Provoca um estranhamento e uma reação Eu me apresentar enquanto mulher E as pessoas decidirem que não é o caso Provoca, às vezes, reações muito viscerais, Pode provocar reações violentas muito fortes ou... De outros tipos de violência Mais simbólica mas tão real quanto... Os murros que já levei. Lembro-me quando Nos conhecemos e disse O meu nome é Alice E sou uma mulher trans Eu, todos os dias Antes de sair de casa Faço uma análise Tento perceber como é que me sinto Tento perceber qual é o nível de violência Que eu estou disposta a sofrer nesse dia. E, conforme, escolho o que é que vou vestir Como é que me vou maquilhar Como é que me vou apresentar ao mundo. E saio.