Os cegos não enxergam o algodoal do céu Nem os olhos siderados do hipnotizador Os cegos tateiam cores e prestidigitam flores Ouvem as explosões do sol Adivinham brancas cirandas E desenham lúcidas mandalas O mundo imaginal Sumiu num ponto cego atrás dos olhos de São Tomé Apóstolo Os cegos transparecem videntes Em fitas infinitas do cinema que o eclipse não apaga E dormem emparedados em casas geminadas E dormem emparedados em casas geminadas Tem cego no oco do chão, na província das toupeiras Tem cego aliviando incêndio com seu lacrimário de devastação Tem cego polindo cristal com retumbo de corisco Tem cego atravessando o tempo em busca da Ilha de Santo Brandão Tem assum preso nas gaiolas do amor O mundo imaginal Sumiu num ponto cego atrás dos óio de Santomé Apóst'lo Igrejas, minaretes, pianos, sonhos As moças bonitas, as feias O ouro da alquimia O vento buliçoso no canavial O bote das sucuris Os braços de Shiva, da Vênus de Milo A brisa que o Brasil beija e balança O rio da minha aldeia O grande sertão: veredas É tudo se concentrando ali no mesmo ponto É tudo se concentrando ali no mesmo ponto Os cegos se concentram num ponto Mas o ônibus arregalado passa ao largo feito um raio e fecha os vidros