Ó Mar Leva tudo o que a vida me deu Tudo aquilo que o tempo esqueceu Leva que eu vou voltar Ó Mar Como quem vem E regressa ao fundo Do ventre da mãe Tão indiferente Consumiste na força bravia Todo o encanto das coisas que havia E lançaste na praia ardente Náuseas e pragas Despojos de almas As carnes em chagas As mágoas Condenaste-me à noite De sangue e fogo E vento e sombras Ao teu quebranto Mas deixa-me ao menos O corpo despido Em descanso Ó Mar Lago imenso de oceanos salgados Onde os rios também naufragados Vão por fim descansar Ó Mar Tecem murmúrios Sensuais Como os amantes Depois Repousam em paz No teu ciúme Ó sereia do braço da ira Seduziste na tua mentira E arrastaste contigo o mundo Todos os sonhos Os meus desejos Os suaves Outonos E o Tejo São saudades que eu tenho Leve memória Do que já fui Que já não sou Mas se tudo levaste Leva enfim esta dor Que ficou