É um pouco estranho ouvir esta carta por música rap
Pois me redimo e preciso que alguém me intreprete
Neste caso, chamo o Rage Sense o ex mc de maquete
Com o seu dom de vocalista p'ra poder entreter
Só estou a dar continuidade a um problema dos africanos
Que é de gerir mal um país e concretizar os meus planos
Ouçam bem senhores, dei milhões à minha filha
Pus um povo na miséria para facilitar a minha família
A minha mulher abusa do poder no Brasil
A gorjeta por cada empregado são notas de mil dólares
De faixada mando construir pequenos lares
Enquanto o resto do país nunca viu materiais escolares
Os meus parentes e amigos têm do bom e do melhor
Espalho o terror, faço crianças morrerem de fome e de dor
Sou mais que um presidente, sou um ditador
Faço-me de bom p'ros olhos cegos do exterior
Estou no poder, há vinte e cinco anos, parvalhões
Quanto mais tenho mais quero, por isso não há eleições
Fui colega d'um considerado assassino de guerra
Partilhavamos ideias, negociavamos as terras
Nasci num dos bairros mais pobres até hoje
Mandei alterar os votos nas eleições de '92
Mas apesar de tudo sou muito inteligente
Pois com a minha astúcia manipulo todos facilmente
A maioria são analfabetos sem qualquer educação
As minhas palavras apagam luzes que acendem na escuridão
Possuo minas de diamantes, sondas e muito mais
Na cidade alta consigo contar os hospitais
Porque até são poucos, por isso existem muitos loucos
A vagueiar pelas ruas, a procura de uns trocos
Calo os governantes e os enterro quando possível
O país pára quando passo, torno-me mais visível
No meu Mercedes a prova de bala e vidros fumados
O meu exercito controla movimentos em todos os telhados
Também já tive ligações com o misticismo
Porque é que acham que 'tão todos presos no comformismo
Ai de quem revelar segredos de estado
Era logo evacuado e a seguir decapitado
A verdade é cruel mas tem de ser revelada
Escrevo esta carta mas sem recentimentos de nada
Não há quem aguente ser uma pedra na minha sola
Especificamente sou mais um Sadã em Angola
A fim de algum tempo de namoro
Dei a minha filha casamento de ouro
Afinal de contas o boss é que manda
Fiz desfilar autênticos carros sobre a cidade de Luanda
E nessas ruas deslocados pedinchavam migalhas de pão
Contudo vidros escuros bloqueavam a visão
E eu próprio tenho, vergonha de ver
E porque nenhum filho meu conhece a palavra sofrer
Não endemizei nenhum motilado, um pobre coitado
Que de corpo e alma lutou pelo país sem que nada lhe tivesse custado
Os do Cuando-Cudango, um povo quase extinto
Por incrivel que pareça, não sinto remorsos quando minto
Não tenho quaisquer sentimentos de angústia
É como se fosse mais um Ivã no império da Rússia
Não faço nada em prol de uma ideia positiva
Controlo as FAA e os meios de comunicação massiva
Invento leis que me ajudarão no futuro
A cada tribual e juíz, já patrocinei o ombro duro
Mando cegar todo aquele que vê
Jornalistas matei, mandei prender William Tonet
Porque a única voz livre de falar é a minha
Liberdade de expressão é somente minha
De punho erguido não há porta que não arrombe
Já agora sou responsável pelo Izenza do Itombe
E mesmo um dia que se decidirem revoltar
Não me preocupo, tenho o meu jato particular
Crianças velhos e adultos, angolanos em todos os cantos
O sangue sobre os manos fez me ouvir cânticos e prantos
Confesso ter mandado matar inocentes e outros tantos
Sou eu o criminoso
Neps
Já, já não posso mais ler esta carta man, fogo
Is-isto é bué cruel, durante esses anos todos bué verdades foram refundidas, man
O povo, man, isto é mentalização, boy
Eles não podem colaborar com o sistema, meu
Yah, eles têm de acabar com essa falsa política, man
Renúncia o hino, esta bandeira, ela não nos pertence
Pertence somente a eles
Falem alguma coisa, man
Eles têm tudo, o povo não tem nada
Simples, não dá, bué
Esta miséria, eles 'tão se a cagar para o povo
Sam pode baixar o beat, man
Scratch
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