Querem me ver no chão Mas não sem dor ♪ Querem me ver no chão Mas não sem dor Com a manta ensanguentada Do perdão Entre a passividade escoltada E sagrada delação Ela acende a ponta E traga no rojão ♪ Não tenho medo do que possa vir Do fim do fundo E todo dia recuso trair Meu plano é outro Me preparo pro pior Terror Eu vou tirar a sua paz ♪ Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais ♪ Meus amigos secretos São curiosamente competentes Sobretudo, no não ser São tantas as palavras Que eles inventaram pra classificar A temperatura agradável Num dia ameno de verão Os fluídos, a renda, nosso útero A necessidade de abortar Meu lábios, a saudade, o mar Quanto a mim Quero mais é apanhar Porque todo o resto foi pouco E o que quero não é desculpa, nem retratação Quero toda a vingança que nos cabe A vitória dos feridos A orgia da semântica O desacato à semiótica A juventude insubmissa No cataclismo último do capital Sou a garganta vermelha Que abre e fecha caminhos E são tantos os assédios Que o primeiro ato Não é poder falar Porque não se pode Ainda que se diga O primeiro é carregar Porque, como o rio doce Estão todos afundados Na lama da vida normal Matheusa, Marielle, vivemos A violência é cerne-signo Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais A baca cheia de dentes Morde a calçada No vão das pernas E a cinza suja na cara Vem do cigarro Preso entre dedos Que saem asaltando bancos Virando carros, tirando a limpo O peso, o preço da culpa O corpo marcado qu'inda carrego Aperto com as mãos em garra E afasto do escuro O rosto das teias A carne em febre na pista O suor engasgado Foge das veias Rasgando a nuca molhada Os olhos fechados De pulso lento Respiro o pó descascado Da poeira seca Que cai do teto, teto, teto Bate mais Bate mais A tinta escorrendo amarga Arde na empena Dos olhos pretos Vivos impressos ♪ Arruda fresca no peito Contra os canalhas De cano quente Que não dão trégua ♪ E encontro na madrugada Amparo no esgoto Que abastece a fábrica velha ♪ Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais Bate mais