Ouvi da minha desdita Certo dia em que eu passei Numa ruela tão estreita Que onde fica eu já nem sei Calhou de estar à janela Nesse dia, aquela hora A criatura tão bela Que naquela casa mora ♪ Delicada de cintura E com setas no olhar Ao ver a minha figura Sorriu e mandou-me entrar Nesse dia à mesma hora Não chegou pelo jantar O fiador da cidade E lá o foram procurar ♪ Veio dar à beira rio Sem roupas, sem cor, desfeito Com as vergonhas de fora E três facadas no peito Por nunca ter um tostão Fui o principal suspeito Fizeram de mim o vilão Naquele golpe perfeito ♪ Logo de manhãzinha Ao juiz eu fui chamado E qual não foi o meu espanto Eu já lá tinha estado Era aquela tal ruela Estreita como a minha sorte Sem ter ninguém à janela Desta vez bati à porta ♪ Sem nada que desculpasse Obra que eu não assinei Fosse qual fosse o desfecho Eu nada tinha contra a Lei E o meu álibi ficou preso No nó da minha garganta Sei que se põe à janela E se houver Sol ainda canta