Foi num súbito repente Que se deu o incidente Estava eu semi-dormente No sofá da minha sala Quando assim de supetão Vejo um nítido clarão Uma estranha aparição Mais veloz do que uma bala Uma esfinge imaculada Apareceu-me assim do nada Deixou-me aterrorizada Em plena luz do dia Estava eu a ver o preço certo Num estado semi-desperto E de repente estou a meio metro Da própria Virgem Maria Só gritei "ai mãe do céu" O que é que foi que me deu E ela impávida, de véu A ouvir toda a gritaria Foi um prato que partiu Foi o gato que rugiu Toda a azáfama se ouviu Em mais do que uma freguesia Sabes como é a cusquice Lembras-te da dona alice? Desatou no diz que disse Pôs-se a dizer que eras tu Diz que o mundo está perdido E que ouviu tanto gemido E que tu estás prometido À zefa da Marilu Ai ai ai Quantos ais Até que desenguice este enguiço que me deu Ai ai quanto fado mais Cabe dentro deste amaldiçoado Malfadado fado meu Ninguém pára o mexerico E agora como é que eu fico Diz me lá como é que eu explico A razão desse meu estado Dizem que não há perdão Que te viram de raspão A sair do rés do chão De cabelo ainda molhado Tanta birra tanta mossa Ai Jesus, "ai minha nossa" Tanta tinta, tanta prosa Tanta sanha, tanto assédio Mas que culpa é que eu tenho Se um senhor do teu tamanho Resolveu ir tomar banho Nesse dia ao nosso prédio Ai ai quantos, quantos ais Até que desenguice este enguiço que me deu Ai ai quanto fado mais Cabe dentro deste amaldiçoado, malfadado Fado meu Eu cá juro em qualquer lado Por tudo quanto é sagrado Que eu andava nesse estado Nesse dia, aquela hora Por ter tido por visita Naquela tarde maldita Para minha grande desdita A própria nossa senhora Vou à vida, vou-me embora É chegada a minha hora Arranjo emprego lá fora Só sei que não fico aqui Tu agora vens comigo Ou te escondes num abrigo Isso agora é contigo Pensa tu num alibi Ai ai ai Quantos ais Até que desenguice este enguiço que me deu Ai ai quanto fado mais Cabe dentro deste amaldiçoado, malfadado fado meu