Tenho um periquito dentro da gaiola Que canta sempre que lhe dou uma Coca-Cola Assobia os êxitos da rádio E em dias de chuva canta um fado Leio uma revista na diagonal E consigo ver pra lá do meu quintal Tenho um visão grande-angular Que abarca tudo quanto cabe no olhar Quando eu morrer talvez me esfume Em vapor de céu azul Talvez me purifiquem nalgum lume Ou numa túnica de tule Mas por enquanto eu nem me tenho dado assim mal Pela Europa do sul Viva o fado, viva o fado Viva a vizinha do lado Viva o fandango, viva o fandango Viva o vira, vira o frango Viva o entrudo, viva o entrudo O gigantone e o cabeçudo Que eu estou por tudo Eu estou, por tudo Tenho uma amiga que se derrete Sempre que me encontra na internet Acho que me saiu a taluda Às custas de um poema de Neruda Cedo fui sugado pelo vortex Das normas de algum algoritmo simplex Embati de frente na tragédia De ser meio classe média-média Quando eu morrer talvez me esfume Em vapor de céu azul Talvez me purifiquem nalgum lume Ou numa túnica de tule Mas por enquanto nem me tenho dado assim tão mal Pela Europa do sul Viva o fado, viva o fado Viva a vizinha do lado Viva o fandango, viva o fandango Viva o vira, vira o frango Viva o entrudo, viva o entrudo O gigantone o cabeçudo Que eu estou por tudo Eu estou, por tudo eu estou Por tudo eu estou Por tudo eu estou