A vida não vai nada bem P'ra miúda do cabelo azul O que é que a levou a pintar O cabelo assim de azul? Será que são questões de pai? Ela a dizer: olha pai E ele de olhos no jornal A dizer: filha já vai? E ela de cabelo azul E ela de cabelo azul O dia correu de feição Para o cavalheiro ali atrás Com cara de que tanto faz Quem é que ganha as eleições? Tanto lhe dá se a nação Cai nas mãos dos espanhóis É como se dois e dois Não fosse sequer questão P'ró cavalheiro ali atrás P'ró cavalheiro ali atrás As pessoas são todas iguais E acham mesmo que as demais Conspiram com outras que tais Em vidas boas Duradouros pactos ancestrais De pessoas, pedras e animais Tirando a dessa pessoa A vida é boa A vida é boa E as pessoas são todas iguais E as pessoas são todas iguais O homem do olhar obtuso Põe as culpas na mulher No governo, no país Na tatuagem de ex-recluso Sente ofensa pessoal Pela indiferença boçal Do cavalheiro ali atrás E dava-lhe tanto faz Ao indigente ali atrás Ao indigente ali atrás Aquela senhora de idade Agarra com as duas mãos A bolsa de napa marrom Murmura um lamento sem som Será que na bolsa marrom Leva fotos tipo passe? Como se o tempo congelasse No tempo em que o tempo era bom A senhora de uma certa idade A senhora de uma certa idade As pessoas são todas iguais E acham que as outras pessoas Conspiram com outras que tais Em vidas boas Com sorrisos e sonhos boçais Interagem com os demais Tirando a dessa pessoa A vida é boa A vida é boa A vida é boa A vida é boa E as pessoas são todas iguais E as pessoas são todas iguais E as pessoas são todas iguais E as pessoas são todas iguais Iguais, iguais, iguais