Eu não tenho tempo p'ra conversas Tira a roupa e deita-te no chão Não perguntes nada, fica assim calada Amarra os pés que eu trato das mãos Olho-me no espelho embaciado Entre a bruma do ar condensado Ouço um gemido, cruzo a mão pelo cabelo O reflexo não é meu amigo Um pêlo branco no bigode é novidade Assim não há como fugir à velha idade Ao menos fico contemplando o teu decote Como se fosse o último brinde do ano O passado agora está aqui tão presente Esta náusea que me invade o pensamento Como uma nau que ruma pelo mar doente Sem timoneiro que se agarre ao leme errante ♪ Volta a minha vida mais terrena A um ritmo pouco natural Nada faz sentido, sinto-me perdido Desamarro os pés e as tuas mãos As memórias vão-se esfumando A um ritmo lento, duro e brando O cotidiano faz e acontece Tece uma trama que me trama E assim a minha vida vai se nivelando Momentos doces alternados com amargos Nas partes doces vou-me lambuzando Nas mais amargas travo a dor com o decote Um pêlo branco no bigode é novidade Assim não há como fugir à velha idade Ao menos fico contemplando esse decote Como se fosse o último brinde do ano