Um ciclo em forma de borrão Intenso, curto e desigual Causado, estranho e em formação Buscando um referencial (N'um) existir concreto Com o inexistir sempre por perto À espreita a finitude que o acalentará Justificar com um fundamento Que inventou e fez acreditar Num deus perpétuo e por si só Que te consolará A dor da morte é o que consolará o que sobrou de nós E toda opressão do mundo tão atroz e a privação da vida Vigas de ferro Brigas e berros Olhos de sal Mágoas sem fim Litros de fel Nuvens sem céu Vidas reais Farto de mim Uma lembrança opaca que retorna sem parar Acorrentando os dias em memória circular Aprisionando tudo num segundo assustador De pânico, vertigem, pouquidade e privação Quando te vi da ultima vez Foi num momento tão normal Era impossível de prever Que aquele abraço era o final Após então, o chão se abriu Você desceu, não pude crer O peso agora é todo meu Vazio ateu, adeus você Mas toda morte então consolará o que sobrou de nós E toda opressão do mundo tão atroz e a privação da vida Todas as brigas, conflitos Todos as mágoas de ti Toda aquela raiva toda aquela confusão Todo o mal querer todo aquele momento ruim Todo desconforto toda desconsolação Todo desalento todo sentimento mal-estar Toda desavença todo sal no coração Todo alcoolismo todo abandono maternal Todo amor não dito todo medo toda solidão Todo tchau não dito suicido toda comoção Toda enfermidade todo abandono paternal Toda adrenalina todo vício toda suspeição Todo arrasamento todo trauma toda acusação Todas essas coisas se encerram no funeral