Um lugar inusitado foi o cenário da minha formação Tão complicado quanto o caminho que vai da mente ao coração Uma lágrima por cada palmo de sofrimento Onde sonhos são como vento levados pelo próprio vento Luz lá só aquela que agregada ao som das sirenes Tiros, órfãos de pais vivos, barcos atracados sem leme É claro, eu vim de um logo ali costumeiro De um frenético subúrbio brasileiro De casas sincronizadas pelas mesmas gambiarras de fio Onde gente é esquecida pela pátria amada mãe gentil Vim de um lugar que a voz do mudo ecoa tão alto Que até ensurdece Onde um copo de cachaça é o que inspira o sofredor A fazer sua prece Vim da baixada onde a Pereira Rezende faz esquina com a Rua Rio Verde As garotas ali vendem seus corpos por trocados E acredite não é pra comprar sorvete Eu fui prisioneiro da fumaça, e da luz incandescente dos isqueiros Mas percebi que eu sentia mais dor na alma Do que nas queimaduras que eu tinha nos dedos Decidi romper o lacre e marchar rumo a liberdade Com uma havaiana amarrada de arame E uma bermuda amarrada de cadarço Cheguei bem no fundo, bem no fundo E lá no fundo eu percebi que não tinha agua, nem luz Procurei em tudo que é lugar tal fé E decidi falar com um tal Jesus! E não é que esse tal Jesus veio mesmo me socorrer? E me dizia todos os dias: Fica firme, vou te ajudar a vencer! Numa caminhada de passo a passo as cortinas iam se abrindo E o tal Jesus me deu uma esposa e ainda me deu três filhos Me deu a chance de ouvir as nuances da vida Ouvir e ver o mar! E me entregou uma vocação, cuja essência é poetizar, rimar Gerundiar e amar! E amar Glórias a esse tal Jesus Toda honra e toda glória A esse tal Jesus