Senhoras e senhores, boa noite
Uma honra... uma honra está aqui hoje com vocês
Trazendo tudo que sou
Eu pertenço à casta dos que se iluminam com os breus
Filho das Minhas Gerais
Eu hospedo nas carnes as contradições
Todas as contradições barrocas
Os delicados pertences de uma escola que harmoniza luz e sombra
Minha arquitetura, ela tem tanto céu quanto tem chão
Desde de muito menino eu nunca fui afeito às realidades puras
Eu prefiro o arcano mistério... a curva
O quintal onde as crianças inocentes se encantam
Com serpentes ardilosas
Foi assim que eu descobri a vida
No risco... no perigo de ser por ela ser dizimado
E a minha música, ela advém justamente desta experiência
Eu garimpo Deus onde posso
No improvável, nos emaranhados das coisas profanas
Nos olhares descrentes
Nos ritos alheios
Nos confessos ateus
Em tudo, em tudo eu procuro a sacralidade
Nunca acreditei que Deus fosse um privilégio de crentes
Perscruto escritos dos que não se curvaram aos mesmos altares que eu
E descubro ele lá
Ele está lá presente através dos recursos da beleza
E a arte é epifânica, minha gente
Ela desenha sobre as carnes do mundo as regras da eternidade
Antecipa-nos, ainda que, primariamente, o destino final
Que não ouso configurar, nem tão pouco dá nome
Meu ofício sacerdotal me ensina todos os dias
Meu ofício artístico, me confirma
Que o mistério, o verdadeiro mistério
Não suporta explicações
O máximo que podemos fazer
É, sobre ele, poetizar
Eu quero que esta noite seja isso
Uma oportunidade de deixar que o mistério seja
O que ele é
E nós, uma breve palavra sobre ele
♪
Quando a voz escondida no vento, resolve cantar
Quando o verso embrulhado nas ondas aprende a dizer
Quando a estrela-cadente no céu faz clarão na cidade
O poeta que vê, sob a luz já se prostra
Tanta cruz, tanta desarmonia no mundo a gritar
E o poeta com a luz recebida, prepara o Altar
E no rito que bem-aventura, a palavra consola
Tira o peso da Cruz, solidão vai embora
Toda vez que a Divina Palavra, na voz tão humana
Se traduz, se revela, nos canta e bendiz
Alinhava este chão ao seu céu
Faz bordado nas almas dos réus
Põe caminhos nos pés dos que antes não tinham aonde ir
Toda vez que o dourado do céu cai na prata da história
E o mistério se deixa mostrar nos caminhos da voz
Faz profeta, o poeta e o cantor, da palavra faz gesto de amor
E polvilha de luz o caminho pra quem nele for
Toda vez que o profano recebe no ventre da alma
A beleza da arte que em Deus tem raiz
O Divino nos desce do céu
Sobre o mundo derrama o seu véu
E a beleza rendilha os caminhos, nos põe noutra luz
Quando a dor, no secreto do mundo, consegue falar
Quando o algoz, alojado nas sombras, aprende a dizer
Quando a morte, nas tramas da vida, nos rouba a palavra
O artista que vê, pede a Deus a resposta
E num misto de luz e penumbra, se põe a buscar
A resposta que nunca responde, mas faz prosseguir
E na arte que reza sem voz, todo o artista tempera
A beleza do chão com esperanças eternas
Toda vez que a Divina Palavra na voz tão humana
Se traduz, se revela, nos canta e bendiz
Alinhava este chão ao seu céu
Faz bordado nas almas dos réus
Põe caminhos nos pés dos que antes não tinham aonde ir
Toda vez que o dourado do céu cai na prata da história
E o mistério se deixa mostrar nos caminhos da voz
Faz profeta, o poeta e cantor, da palavra faz gesto de amor
E polvilha de luz o caminho pra quem nele for
Toda vez que o profano recebe no ventre da alma
A beleza da arte que em Deus tem raiz
O Divino nos desce do céu
Sobre o mundo derrama o seu véu
E a beleza rendilha os caminhos nos põe noutra luz
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