Não tem choro, não tem vela Não tem reza nem tem muro Não tem cachorro nem lança Nem espada, nem escudo Não tem frio, não tem quente Não tem gravata nem pente Não tem tranca, não tem porta Não tem grade e nem corrente Não tem fardo, não tem faca Não tem fardo e não tem corte E nem com nosso azar Todo entregue à própria sorte Nem os laranja com os malotes Nem o espírito opaco e seus potes Não tem firma, não tem marca Não tem bancada nem forte Nesse circo tão sem graça Nem que a seda mate a traça Não tem caro nem barato Nem por nada, nem de graça Pra poder parar com a minha Pra poder parar com a sua Pra poder parar com a nossa Oração No peito a pureza, na mão fortaleza Sem sombra de dúvida a luz da certeza Pra que eu possa enxergar a verdadeira nobreza Pra tirar toda a coroa Da cabeça de quem não mereça Me faça caçador de opaco E servo da gentileza Que do mundo da onde eu venho Fui ensinado na estrada Que a lágrima de um justo Pesa uma tonelada Mas eles não sabem disso E ela tá sendo represada Tipo uma lagoa triste Bem por cima das suas casas Mas o que eles não sabem é do que é feito essa água Que se cada gota dela pesa uma tonelada Não vai ter represa forte pra parar nossa virada Tem o sorriso e a janela Tem o vento e tem a vela Tem o abraço, tem o instante Tem a praça e o mirante Tem a festa, tem as danças E dos fogos tem o cheiro Tem a menina na sacada Que tem trança no cabelo Tem o encontro, tem o laço Tem a luz e tem o parto Dos moleques pelos piques Pela pipa no telhado Tem meu filho no meu colo Onde o medo nunca alcança Tem meu pai de braço aberto Me esperando na varanda Tem bem longe, tem o porto E de perto a tua lembrança Pra fortalecer a minha Pra fortalecer a sua Pra fortalecer a nossa oração