POEMA DA GRATIDÃO - Divaldo Franco
Muito obrigado Senhor!
Muito obrigado pelo que me deste
Muito obrigado pelo que me dás
Obrigado pelo pão, pela vida, pelo ar, pela paz
Muito obrigado pela beleza
Que os meus olhos vêem no altar da natureza
Olhos que fitam o céu, a terra e o mar
Que acompanham a ave ligeira
Que corre fagueira pelo céu de anil
E se detém na terra verde,
Salpicada de flores em tonalidades mil
Muito obrigado Senhor!
Porque eu posso ver meu amor
Mas diante da minha visão
Eu detecto cegos guiando na escuridão
Que tropeçam na multidão
Que choram na solidão
Por eles eu oro e a ti imploro comiseração
Porque eu seique depois desta lida,
Na outra vida, eles também enxergarão!
Muito obrigado Senhor!
Pelos ouvidos meus
Que me foram dados por Deus
Ouvidos que ouvem o tamborilar
Da chuva no telheiro
A melodia do vento nos ramos do olmeiro
As lágrimas que vertem os olhos do mundo inteiro!
Ouvidos que ouvem a música do povo
Que desce do morro na praça a cantar
A melodia dos imortais,
Que se houve uma vez e ninguém a esquece nunca mais!
A voz melodiosa, canora, melancólica do boiadeiro
E a dor que geme e que chora no coração do mundo inteiro!
Pela minha alegria de ouvir,
Pelos surdos, eu te quero pedir
Porque eu sei
Que depois desta dor, no teu reino de amor, voltarão a sentir!
Obrigado pela minha voz
Mas também pela sua voz
Pela voz que canta
Que ama, que ensina, que alfabetiza
Que trauteia uma canção
E que o Teu nome profere com sentida emoção!
Diante da minha melodia
Eu quero rogar pelos que sofrem de afazia
Eles não cantam de noite, eles não falam de dia
Oro por eles
Porque eu sei, que depois desta prova, na vida nova
Eles cantarão!
Obrigado Senhor!
Pelas minhas mãos
Mas também pelas mãos que aram
Que semeiam, que agasalham
Mãos de ternura que libertam da amargura
Mãos que apertam mãos
De caridade, de solidariedade
Mãos dos adeuses
Que ficam feridas
Que enxugam lágrimas e dores sofridas!
Pelas mãos de sinfonias, de poesias, de cirurgias, de psicografias!
Pelas mãos que atendem a velhice
A dor
O desamor!
Pelas mãos que no seio embalam o corpo de um filho alheio sem receio!
E pelos pés que me levam a andar, sem reclamar!
Obrigado Senhor!
Porque me posso movimentar
Diante do meu corpo perfeito
Eu te quero rogar
Porque eu vejo na Terra
Aleijados, amputados, decepados,
Paralisados, que se não podem movimentar
Eu oro por eles
Porque eu sei, que depois desta expiação
Na outra reencarnação
Eles também bailarão!
Obrigado por fim, pelo meu Lar
É tão maravilhoso ter um lar!
Não é importante se este Lar é uma mansão
Se é uma favela, uma tapera, um ninho,
Um grabato de dor, um bangalô,
Uma casa do caminho ou seja lá o que for
Que dentro dele, exista a figura
Do amor de mãe, ou de pai
De mulher ou de marido
De filho ou de irmão
A presença de um amigo
A companhia de um cão
Alguém que nos dê a mão!
Mas se eu a ninguém tiver para me amar
Nem um tecto para me agasalhar
Nem uma cama para me deitar
Nem aí reclamarei
Pelo contrário, eu te direi
Obrigado Senhor!
Porque eu nasci!
Obrigado porque creio em ti
Pelo teu amor, obrigado senhor!
Poema de Gratidão - Amélia Rodrigues (Divaldo Pereira Franco)
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