Os ninguéns As pulgas sonham com comprar um cão E os ninguéns com deixar a pobreza Em algum dia mágico a sorte chova de repente Que chova a boa sorte a cântaros Mas a boa sorte não chove ontem Nem hoje, nem amanhã, nem nunca Nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte Por mais que os ninguéns a chamem E mesmo que a mão esquerda coce Ou se levantem com o pé direito Ou comecem o ano mudando de vassoura Os ninguéns Os filhos de ninguém, os donos de nada Os ninguéns, os nenhuns Correndo soltos, morrendo a vida Fodidos e mal pagos Que não são, embora sejam Que não falam idiomas, falam dialetos Que não praticam religiões, praticam superstições Que não fazem arte, fazem artesanato Que não são seres humanos, são recursos humanos Que não têm cultura e sim folclore Que não têm cara, tem braços Que não têm nome, têm número Que não aparecem na história universal Aparecem nas páginas policiais da imprensa local Os ninguéns Que custam menos do que a bala que os mata ♪ Era um domingo de sol, ele saiu de manhã Pra jogar seu futebol, deu uma rosa pra irmã Deu um beijo nas crianças, prometeu não demorar Falou com sua esposa que iria vir pra almoçar Era trabalhador, pegava o trem lotado Tinha boa vizinhança, era considerado E todo mundo dizia que era um cara maneiro Mas todos o criticavam porque ele era funkeiro O funk não é motivo, é uma necessidade É pra calar os gemidos que existem nessa cidade E todo mundo devia nessa história se ligar Porque tem muito amigo que vai pro baile dançar Esquecer os atritos, deixar a briga pra lá E entender o sentido quando o DJ detonar Era só mais um Silva que a estrela não brilha Ele era funkeiro, mas era pai de família Era só mais um Silva que a estrela não brilha Ele era funkeiro, mas era pai de família E anoitecia, ele se preparava Que era pra curtir o seu baile que em suas veias rolava Pôs a melhor camisa, tênis que comprou suado E bem antes da hora ele já estava arrumado Se reuniu com a galera, pegou o bonde lotado Os seus olhos brilhavam, ele estava animado Sua alegria era tanto ao ver que tinha chegado Foi o primeiro a descer e por alguns foi saudado Mas naquela triste esquina um sujeito apareceu Com a cara amarrada, a sua alma estava um breu Carregava um ferro em uma de suas mãos Apertou o gatilho sem dar qualquer explicação E o pobre do nosso amigo que foi pro baile curtir Hoje com sua família não irá dormir! Porque era só mais um Silva que a estrela não brilha Ele era funkeiro, mas era pai de família Era só mais um Silva que a estrela não brilha Ele era funkeiro, mas era pai de família Só mais um Silva que a estrela não brilha Ele era funkeiro, mas era pai de família Era só mais um Silva que a estrela não brilha Ele era funkeiro, mas era pai de família