Quando eu vim para a cidade Eu ganhava a minha vida Ave-pássaro cantando Na noite do cabaré E era mais pobre do que eu A mulher com quem dividia Dia e noite, sol e cama Cobertor, quarto e café O Nordeste é muito longe, saudade A cidade é sempre violenta Pra quem não tem pra onde ir A noite nunca tem fim O meu canto tinha um dono E esse dono do meu canto Pra me explorar, me queria Sempre bêbado de gim O patrão do meu trabalho Era um tipo de mãos apressadas Em roubar, derramar sangue De quem é fraco, inocente Tirava o pão das mulheres Suor de abraços noturnos Confiante que o dinheiro Vence infalivelmente Ele ganhava as meninas Com seu jeito de bonito A roupa novinha em folha Cravo vermelho na mão Charuto aceso na boca Bolsa cheia de promessas De que um dia entregaria A qualquer uma o coração Mas noite é vida e vida é jogo E jogo é sorte e a sorte é vária Coisa muito complicada O amigo tem ou não tem Quem não tem sucesso ou grana Tem que ter sorte bastante Para escapar salvo e são Das balas de quem lhe quer ter ♪ Por isso eu fui ao Navalha Falei com o Papel de Seda Malandros amigos meus Que tinham vindo há mais tempo Deles aprendi a arte De conviver com o perigo De respeitar sem temer Qualquer espécie de gente Contei tudo, eles iriam Ver meu show na meia-noite Falava a palavra amor A letra da minha canção E o tipo, sentado à mesa Rugia e amassava o cravo Sangue, um golpe na garganta E um tiro no coração Eu não quero falar nada Eu quero é completar meu canto Pois sei que o show continua Que continua o viver Mas é bom tomar cuidado Com quem entende o riscado To be or not to be Quer dizer ter ou não ter To be or not to be Quer dizer ter ou não ter To be or not to be Quer dizer ter ou não ter