Porque é que ligamos a tanta coisa sem valor E não entendemos que o pouco tem o seu sabor É mais fácil dar atenção ao um ecrã na minha mão O nosso tempo já perdeu a cor Lembro-me a uns anos, não fazia planos Era tudo nosso e o nosso reino era o campo E onde é que tudo isso está agora Ir jogar à bola e cada jogo durar horas E eu não tinha horas, nem havia formas De ligar pra casa pra avisar que ainda demoro O último a chegar ficava a ver-nos jogar Tu não tinhas whatzapp não podias atrasar E eu corria, saltava, um dia era polícia No outro dia já roubava A terra era calma, o people confiava Andava pela rua e não havia portas fechadas Quando eu me apaixonava Tinha de falar cara-a-cara Não havia Instagram Pra eu me poder declarar Tudo que a malta fazia Só quem lá tava é que via Não filamava, aproveitava Para um dia recordar, ei Porque é que ligamos a tanta coisa sem valor E não entendemos que o pouco tem o seu sabor É mais fácil dar atenção ao um ecrã na minha mão O nosso tempo já perdeu a cor Eu queria cromos da Panini, defender à Maldini E nesta costa curta nunca passou népia Não havia, net só biblioteca O que eu malhei na terra, trecos e sueca É o que trazemos desse tempo que importa Hoje em dia regulamentos não faltam Assobiava pra não bater à porta Descia a rua com rolamentos na tábua Era um pequeno astronauta, em busca sem mapa A nave não capotava Mas quase partiam-se uma garrafas Pontaria acertada, com bola controlada O número 10 era flash, tenho o relógio a contar Os putos tinham mais classe Não quero saber do que fazes Se não for feito com arte Minha raíz não tem vaso Nunca teve compadre E sei que um dia mais tarde Vão poder comparar, mas Porque é que ligamos a tanta coisa sem valor E não entendemos que o pouco tem o seu sabor É mais fácil dar atenção ao um ecrã na minha mão O nosso tempo já perdeu a cor ♪ Já nem falas, Alentexas ÁTOA, 1995