Ontem saí de casa às duas E ao sentir o chão das ruas tocar os meus pés Eu percebi contrariado que havia algo errado O mundo estava ao revés Surpreso, eu contei até dez: Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito E antes de chegar ao nove, ao meu lado algo se move Era um fundo sem buraco Onde uma casca escorregou e a banana que sobrou Estava comendo um macaco Eu quase tive um pirepaque! Quando cruzei a avenida e vi uma vaca encolhida Que mamava em seu bezerro Como um jogo dos sete erros Um réu condena um juiz por um comentário infeliz A sete anos de degredo lá na Ilha do Desterro E a cada degrau que eu pisava Tinha mais de cem escadas e ninguém pra dar socorro E na pelada lá do morro era defesa no ataque A bola chutava o craque E o poste mija no cachorro Eu depois dessa quase morro! Saí correndo dali E sem querer eu me meti no salão de beleza onde trabalha a Teresa Que ao ouvir minha aventura Não me fez qualquer censura nem me pareceu surpresa Apenas disse com franqueza Por favor tenha calma e me trouxe um gole d'água Com o copo dentro (mais uma pedra de gelo) Depois cortou-me as cabeças do cabelo E os narizes do pêlo. Passando a agulha no camelo Eu afinal me conformei, virei pra ela e falei Se é assim, que assim seja Fui ao boteco do Garcia E passei o resto do dia sendo sorvido por cerveja E que o perigo nos proteja!