Gastão era perfeito Conduzido por seu dono Em sonolências afeito Às picadas dos mosquitos Era Gastão milionário Vivia em tapetes raros Se lhe viravam as costas Chamava logo a polícia Em crises de mal querência Vinha-lhe o gosto pela soda Mas ninguém se abespinhava Que enviuvasse às ocultas Nem Gastão se apercebia De quanto a vida o prendara Entre estiletes de prata E colchas de seda fina Gastão era deste jeito Fazia provas reais Gastão era um parapeito De Papas e Cardeais Vinha-lhe só por fastio Nos tique-taques da vida Um solene desfastio Pela mãe que era entrevada Mandava bombom recados Por mensageiros aflitos Não fora Gastão dos fracos E já seria ministro Conheci-o em Alverca Num bidon de gasolina Tinha um pneu às avessas Mas de asma é que sofria No solstício de Junho A quem o quisesse ouvir Dizia que era sobrinho Do Fernão Peres de Trava Querem saber de Gastão? Vão ao Palácio da Pena Usa agora capachinho E gosta de codornizes Gastão era perfeito Conduzido por seu dono Em sonolências afeito Às picadas dos mosquitos Tem um sinal que o indica Como o mais forte doutor Espeta o dedo no queixo E diz que é nosso senhor