Quem sou eu, quem é você, de repente? Cá estamos nós decadentes, sentados no chão Quem seremos nós dois no ano seguinte? Cada instante mais distantes do século vinte Dentro das décadas ainda estaremos na estrada? Assim, feito dois camaradas sem revolução Feito dois sonhadores tão pertos de nada A resmungar com o inverno e odiar o verão O que de nós restará em dois mil e quinhentos? Quem sabe ressuscitados por computador Resistiremos a dor da maldade dos tempos Ou morreremos no fel desse nosso lamento? E mais adiante quando a humanidade for nada E a natureza esmagada por fios e robôs Quem sabe até quando as máquinas ficarão ligadas No incontornável destino que Deus desenhou? E nesses tempos por onde andarão os burgueses Digo porque eles decerto no fim vencerão Com eternos corações de plástico e visão a laser Mas qualquer dia de tédio também morrerão Muitos milênios depois alguns seres do espaço Encontrarão em pedaço o que a gente sonhou Talvez descubram debaixo dos homens de aço Nossa utopia cantada em algum gravador